De tempos em tempos eu paro para pensar em algo. Cada coisa
no seu devido tempo. Semana passada dei um passo importante em relação ao meu
projeto de mestrado e consequentemente reli de leve minha monografia, que
falava sobre a aparência.
O que significa aparência para o meu trabalho? Isso daqui: “A
aparência, considerada como aspecto exterior e até mesmo como aquilo
que percebemos em oposição a realidade, nos apresenta possibilidades para
interpretar as “coisas do mundo”.” Essa pequena parte
da introdução pareceu saltar aos olhos como letreiros de LED.
# Aspecto exterior: Sempre voltado para os
outros, para o mundo, para as câmeras. Fui bailarina por alguns anos e posso
dizer com propriedade que somos ensinados a sorrir e esconder as nossas dores
de todas as formas possíveis. No palco você faz carão e é graciosa, na coxia
você geme e chora de dor ao tirar a sapatilha de ponta. Todos nós somos bailarinos,
apesar de dizermos a torto e a direita que odiamos falsidade e que somos
pessoas transparentes.
# Aquilo que percebemos: Como a imagem é
poderosa, afinal é o que vemos, e a partir disso construímos nossas opiniões,
nossos conceitos e “pré-conceitos”. Sempre fui taxada como metida por muitas e
muitas pessoas. Sou magra, tenho nariz empinado, sou criativa, sou delicada e
sou feminina. Sei das minhas qualidades como sei de alguns defeitos. Ambos
fizeram com que pessoas nem se aproximassem de mim. Para os mais corajosos
reservei minha amizade sincera, honesta e agora distante! Mas sempre ouvi
deles: “Nossa, você parecia metida, mas não é que você é muito legal?”. E eu
sempre respondi: “Que bom que você me descobriu!”.
# Em oposição a realidade: Já percebeu como a
moda (agora entramos no assunto que eu realmente queria!) nos propõe algo que
nos faça sonhar? Christian Dior em 1947 criou o New Look dizendo com isso: “Mulheres,
chega de fábricas, de racionamento de tecidos e de cortar os supérfluos! Seus
maridos voltaram da guerra! Agora vocês podem voltar para suas casas, aspirar o
tapete, passar brilhantina no cabelo do seu filho e lustrar o móvel! Eu sei que
vocês diminuíram o volume das suas saias, mas agora vamos arrasar nas festas e
vocês vão demostrar novamente a riqueza dos seus maridos e de seus países!”.
Quer algo mais recente? Crise econômica (e política)
mundial. A crise nos países ricos e o dinheiro dos países emergente. Resultado?
Vamos sonhar: Você vai até a loja mais simples do seu bairro e se depara com
peças todas “trabalhadas no paetê”, lê na revista que agora a moda é usar batom
vinho com olho cheio de glitter verde musgo, que mistura de estampas é super
it! A moda pode se dar o luxo de estar rica, emergente e dramática. Chanel,
marca elegante e moderna ao mesmo tempo, elege Maria Antonieta como inspiração
para seu desfile resort. Sim, a musa da frivolidade e da superficialidade.
# Interpretar as coisas do mundo: Você olha para
uma bata florida e diz: “Como isso é hippie, me lembra os anos 70”. Compra uma
it bag e pensa: “Como sou rica e especial”. Abre um blog rico e exclama: “Como
ela deve ser feliz em calçar um Louboutin!!!”. É assim que vamos vivendo, olhando
para o mundo e interpretando fotos, pinturas, editoriais de moda e textos como
esse, tirando conclusões que na verdade estão dentro de nós, até porque aquela
blogueira não necessariamente é feliz, mas você acha que é, pois você queria se
sentir feliz e diva usando um Louboutin.
É essa urgência em ser a mais bem vestida, a mais moderna e
descolada, a mais querida e a mais perfeita que faz com que nos prendamos a estereótipos
e aparências que na verdade não são nossas, não nos pertencem e escondem quem
realmente somos, dos outros e de nós. É aquele esquema do burguês querendo ser
nobre, e começando o seu “golpe” pela aparência!
A moda se alimenta dessa diferença entre o ser e o parecer.
Ela surgiu justamente da vontade de ser algo que não é, de almejar pertencer a
um grupo determinado e fazer disso sua forma de expressão. Se seu look diz
sobre quem você é, a marca que você usa compõe a mensagem. Esse jogo de ser
igual e diferente, de pertencer a algo, gira esse ciclo de tendências, regras
de moda e estilo.
Tudo isso em lembrou uma aula de História da Arte que tive,
onde minha professora falava: “O estilo artístico dominante vinha sempre do
país economicamente forte. Sempre do país mais rico e consequentemente, mais
poderoso militarmente.” Será que a vida imita a arte?
Isso sempre me faz pensar
porque ainda tenho um blog de moda e o que tenho feito com ele, de fato. “Informar
sobre tendências e novidades” poderia ser minha resposta, sinceramente, era até
uma hora. Mas agora, acho que devemos subir mais um degrau e pensar mais um
pouco! Quem vem comigo?
#Vamos comentar?
Bjos
♥