Eu posso afirmar, com toda a certeza, que não sabia o valor de um dia, o valor de 24 horas, até que eles me eram diante de mim praticamente infinitos. Aos 24 anos acampei pela primeira vez na vida. Não sei se gostei ou se não gostei, já matando a sua curiosidade por aqui. Pra mim - e para você - o que vale é toda a experiência e não apenas a conclusão dos fatos. Te espero ali nas próximas linhas, tá?


Sou filha de uma família burguesa de cidade grande, ou seja, sempre prezamos pelo conforto, por ter coisas e viver situações que nos gerassem esse sentimento. Compramos televisões, camas, sofás, almofadas, mas nunca barracas para acampar e nem sacos de dormir. Andei assim até os meus 22 anos, quando conheci um alemão louco por fotografia, natureza e aventura. Eu me apaixonei por ele, e a partir daí fui começando a conviver com meus medos - de sapo, de cobra, de rã, de perereca, de altura, de escuro, de jacaré, de ficar sozinha, etc - e com muitas coisas até então novas para mim, como: acampar.

Meu irmão veio me visitar no meio de janeiro, e para minha surpresa, estava completamente louco para acampar, viver experiências novas. Ele e o Jeff formaram um complô contra mim e usaram várias chantagens emocionais para que eu fosse com eles. Seria o meu primeiro acampamento, e também o primeiro para o meu irmão. Eu pensei e repensei milhares de vezes. Estava com o tempo curto, tinha muito trabalho aqui em Pelotas, tinha medo de não aguentar a pressão, de ser a chata na curtida deles.

Na última hora, depois de alguns inúmeros pensamentos, resolvi ir e enfrentar os meus medos. Começamos acordando bem cedo, indo até Rio Grande e pegando uma balsa para São José do Norte. Vimos o sol nascer da balsa, e a cor do reflexo do sol na Lagoa estava linda. Depois de atravessar, seguimos nosso caminho em direção a um lugar que não sabíamos onde era. Fomos pela beira do mar, e esperávamos alguma entrada para a estrada, mas não encontrávamos. Depois de um tempo, quase atolamos várias vezes, perdemos partes do carro no meio das aceleradas desesperadas para não ficarmos ali atolados. Achamos a estrada, salvamos uma tartaruga que atravessava com toda calma do mundo. A boa ação do dia! ;)


Tínhamos visto no Google Maps uma área bacana para acampar e fomos em busca dela. Encontramos! Quase inacreditável encontrar fisicamente algo que você viu virtualmente! Era uma floresta de pinheiros na beira da Lagoa dos Patos, face oposta a Pelotas. Chegamos perto do meio dia, descemos as coisas do carro e começamos a andar até o lugar onde iríamos montar o acampamento. Nesse momento eu comecei a pensar se precisaria realmente de tudo que tinha levado nas mochilas e nas sacolas. Era tanto peso, e cada grama aumentava mais um pouco a cada passo. Precisava do shampoo que tinha levado? Precisava do segundo short jeans? Precisava de travesseiros?

Depois que chegamos e que montamos o acampamento, já estávamos mortos. Resolvemos dar um mergulho na lagoa, até porque o calor estava muito forte. Entramos, conversamos, e só quando saímos, percebemos que não tínhamos passado filtro solar. Eu até tinha passado, mas as 06 horas da manhã! Resultado: voltei para casa com uma leve insolação! Logo eu, super preocupada com a pele e com a saúde. Fizemos o almoço. A água demorou um milênio para ferver. Além disso, fizemos o macarrão em uma panela cheia de ferrugem, ou seja, massa ao molho de ferro, com pimentas especiais e pedaços de mussarela. Coisa fina, não acham?



Depois eu não sabia mais o que fazer. Dava umas caminhadas, andava na lagoa, fazia algumas fotos - elas estão vindo, pode deixar! - e depois, dormia. O tempo em um lugar como esses passa bem devagar. Não há muitas distrações. Tudo é muito cadenciado. Eu transferi isso imediatamente para a minha rotina corrida aqui na cidade. Refleti sobre ser o "mesmo tempo". Lá ou aqui, eu tenho 24 horas por dia. O sol nasce e o sol se põe da mesma forma. O que acontece aqui que os dias passam tão rápido? O que eu faço com o meu tempo? A quem dou?

Depois de uma longa noite quente e desconfortável, acordei cedo para mais um dia enorme - como esse post -. Tomamos café da manhã, tomamos banho, conversamos, mais fotos e mais comida. Mais pro início da tarde recolhemos o acampamento e eu não via a hora de deitar na minha cama, cheirosa, com lençóis brancos e macios. Até porque eu estava desidratada e ardida, muito ardida, com dores no corpo e enjoo. Foi chegando em casa que descobri que algo não estava legal comigo. Não aceitei o super burger do Jeff pois não conseguia nem pensar em comer.

Concluindo, acredito que acampar seja um exercício para a alma. Você se priva de muitas coisas "rotineiras" e "normais" para você, afim de valorizar ainda mais o que você tem, além de viver uns dias fora da rotina. Mas, leve um livro, algum hobby, jogos ou um violão. O tempo passa devagar, mas saber viver, é uma arte que só você pode aprender por você mesmo. 

E você? Já acampou? Não esqueça de comentar!

Fotos: Graziano Pacheco

Com carinho,
Grazy.