Eu fico muito feliz quando vejo pessoas queridas fazendo sucesso. A Roberta é uma dessas. Lembro bem quando a gente trabalha lá na Eliza Andrade, no meio da correria, de muitas coisas pra fazer, e ela sempre ali, concentrada e simpática. Nunca vi a Roberta chateada, ou de cara feia. Sempre trabalhando, pra cima e muito produtiva.

Ela foi selecionava para fazer os vestidos da Corte da Fenadoce desse ano, e eu sempre bisbilhotava algumas coisas para ver o que estava sendo feito. Adorei o resultado, ficou realmente sofisticado, limpo, clean na medida do possível. Fiz uma entrevista com ela pra gente saber o que a inspirou e como tudo começou! Vem ver!


Grazy Pacheco: Conte pra gente como que começou o processo de criação e quais foram as inspirações escolhidas.

Roberta Nunes: Participei pela primeira vez do concurso "Estilista da Corte", promovido pela CDL e, dentre 28 inscritos fui selecionada. Com o trabalho intitulado "O Doce Império da Realeza", apresentei a criação dos trajes oficiais da Corte da 23º Fenadoce.


Escolhi os tecidos que estivesse o caimento mais adequado para a minha proposta, além das cores, das amostras de bordados e aviamentos. Além de criar os trajes oficiais, desenhei as botas das soberanas e os acessórios. Para realizar este projeto, busquei referência na forte influência europeia que temos em Pelotas, através da tradição doceira e da arquitetura de nossos prédios históricos. Para criar o desenho dos bordados (cores e arabescos), busquei inspiração no movimento barroco, elemento presente na arquitetura da Catedral São Francisco de Paula e no altar da Paróquia Sagrado Coração de Jesus.
  

GP: Como que foi a confecção das peças? O que você mais prestou atenção?

RN: A responsável pela confecção dos vestidos foi a Sirlei, uma profissional absolutamente talentosa e reconhecida na região. Fui a principal responsável por todos os bordados com pedrarias. Em todas as provas de roupa com a rainha e as princesas eu estava presente e tudo passava pela minha aprovação. Na verdade, acabamos trabalhando juntas, porque enquanto a Sirlei confeccionava os trajes, eu fiz 130 pedaços de renda soutache bordada. Assim que os trajes ficaram prontos comecei a aplicar manualmente no corpo dos vestidos. Além disso, trabalhei 1 mês nos bordados da barra da sobre saia da rainha. Foram 3 metros de renda bordada artesanalmente.


Tive uma grande preocupação com os acabamentos das costuras e dos bordados, além do caimento dos tecidos. Quando fui selecionada para ser a estilista responsável pelos trajes fiz questão de acompanhar todo o processo. Além de viajar para escolher cada tecido, escolhi a tonalidade mais adequada do couro para as botas. Outra pessoa poderia perfeitamente ter bordado os trajes, mas ninguém teria o cuidado e o amor que eu tive em cada detalhe. Foram 6 meses de absoluta dedicação!


O meu principal objetivo foi realizar trajes versáteis, pois as soberanas passam incansáveis horas com as roupas. Pensando nisso, com o auxílio do zíper na cava, criei mangas removíveis, sendo essas perfeitamente substituídas por luvas bordadas em dias quentes. Além disso, os vestidos são um pouco mais curtos para facilitar o deslocamento das meninas. Apesar de serem absolutamente pesados, cada traje pesa cerca de 10kg, são peças confortáveis. A modelagem é muito simples, procurei valorizar o trabalho manual.


GP: Quais materiais foram utilizados?

RN: Para desenvolver os trajes das soberanas escolhi um tecido absolutamente digno de realeza: Veludo Alemão. O tecido da rainha veio de Curitiba e o das princesas de Porto Alegre. Os materiais para os bordados são todos daqui de Pelotas. Escolhi pérolas de diversos tamanhos, paetês, miçangas, canutilhos e vidrilhos em tons dourado, cobre e bronze, remetendo ao movimento barroco. Todos os materiais além de absolutamente brilhosos são de qualidade e conservam a tonalidade por muitos anos. Escolhi o cordão de São Francisco em tons dourado e marfim para os acabamentos e os botões forrados em renda para a rainha e veludo alemão para as princesas.


GP: Como você vê o trabalho finalizado? Quais diferenças as peças tiveram dos anos anteriores?

RN: Estou absolutamente realizada e com a sensação de missão cumprida! Foram meses intensos de muito trabalho, mas o resultado final foi muito satisfatório. Sou muito exigente com o meu trabalho e a melhor coisa é saber que tudo o que estava no meu planejamento foi realizado e superou as minhas expectativas. A aceitação do público está sendo absolutamente positiva, os visitantes da feira comentam que ficam emocionados com a riqueza de detalhes dos vestidos.


Acredito que cada vestido teve a sua história, o seu referencial. A principal diferença do meu trabalho está na utilização da renda soutache e na infinidade de bordados utilizando materiais pequenos e delicados. A simplicidade na modelagem também é um fator relevante, procurei desenvolver peças agradáveis aos olhos e dignas de realeza!


É ou não é pra ficar orgulhoso gente? O que você achou? Não esqueça de comentar!

Fotos: Grazy Pacheco

Com carinho,
Grazy.